domingo, 24 de julho de 2011

Ana Joaquina Jansen Pereira

Por Roseliane Saleme
Inimigo de Donana Jansen, com quem vivia às turras, o Comendador Meireles tinha mandado preparar na Inglaterra, para vendê-los quase de graça, um milheiro de belos penicos de louça, com a cara da velha no fundo do vaso. Donana Jansen soube do fato e suportou com paciência o riso da cidade. Não reagiu logo: deu tempo ao tempo, enquanto ia mandando comprar, aos dois, aos três, às dezenas, na loja do Comendador, os penicos com seu retrato, até ter a certeza de que, agora, sim, só ela os possuía. Apenas por perguntar, mal contendo o frouxo de riso, Damião perguntou a um dos negros:
- De quem vocês são escravos?
- De Donana Jansen
Um cheiro insuportável de mijo podre desprendia-se de um vaso à parte, por sinal que maior que os outros, quase o triplo, e coberto com uma tampa também de louça.
- E esse aí? – quis saber Damião.
- Minha sinhá  deu ordem pra despejar o mijo dele na cabeça do Comendador, se ele aparecer pra tomar satisfação.
E sem interromper as pancadas seguras, o negro abriu para Damião a dentadura farta, que lhe encheu a boca feliz, rematando com este comentário, entre um penico e outro:
- Donana Jansen não  é gente. Tou cansado de dizer. Quem se mete com ela tem sarna muita pra se coçar. Ora se tem!
(Josué Montello – Trecho: Os Tambores de São Luís - Capítulo 1)
Parece lenda, ficção de escritor, mas Donana existiu e aterrorizou muita gente com sua implacável autoridade de latifundiária. Nascida Ana Joaquina Jansen Pereira, era neta de um comerciante holandês falido, e escandalizou a sociedade maranhense do século XIX, tornando-se amante de um coronel rico e casado, e ainda por cima, sendo mãe solteira.
Tudo teria sido mais um caso para mexericos na cidade não tivesse a esposa do militar falecido e ele se casado com Ana. Ela, por sua vez, possuidora de um tino comercial notável e de causar inveja, multiplicou a fortuna do marido. Ana teve com o coronel seis filhos. Com a morte do coronel, Ana, então com 38 anos, transformou-se na poderosa “Donana, a rainha do Maranhão”. Firmou-se como uma das maiores produtoras de algodão e cana-de-açúcar do Império, além de possuir o maior contingente de negros do Estado.
Conta-se que ela fazia-os distribuírem água pela cidade, cobrando, quando já existiam métodos mais eficazes para esse serviço. Ao tentarem implantar um sistema para as águas, Donana tantas fez que levou a empresa à falência. Política habilidosa, costurava acordos nos bastidores, e chegou a financiar os exércitos do duque de Caxias durante a Balaiada, revolta que ocorreu no Maranhão. Viveu com outro homem com quem teve quatro filhos. Casou-se novamente aos 60 anos com um rico comerciante paraense. Morreu em 1869 aos 82 anos.
Era voz corrente, então, que DonAna Jansen – como era comumente chamada – cometia as mais bárbaras atrocidades contra seus numerosos escravos, os quais, submetia a toda sorte de suplícios e torturas em sessões que, não raro, terminavam com a morte.
Alguns anos após o falecimento de Donana passou a ser contada na cidade, a lenda, segundo a qual, nas noites escuras das sextas-feiras, boêmios e noctívagos costumam deparar com uma assombrosa e apavorante carruagem, em desenfreada correria pelas ruas de São Luís, puxada por muitas parelhas de cavalos brancos sem cabeças, guiados por uma caveira de escravo, também decapitada, conduzindo o fantasma da falecida senhora, penando, sem perdão, pelos pecados e atrocidades, em vida, cometidos.
Fontes:
http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/Contemporanea/Josue_Montello_Os_Tambores_de_Sao_Luis.htm
http://agenciadeviagem.blogspot.com/2009/02/lendas-maranhenses.html
REVISTA CLAUDIA – ESPECIAL. São Paulo: Abril, 2000. p.15

Um comentário:

  1. prof.arnaldo disse...

    olha desconhecido por que vc não está "identificado" apenas como ARAIOSES NEWS vivemos em um país democrático onde temos direitos e deveres. Os seus direitos terminam onde começam os meus. O respeito é obrigação e não favor! Acho que vc não me conhece pra vc insultar: Primeiro porque não tenho vinculação com nenhum grupo polítco pra vc me chamar de apoiador de rapineiro. Estas palavras sem noção não vou te respoder porque não cabe no meu vocabulario. Esta decisão de reeleger Dona Luciana cabe análise do povo porque não sou eu e nem vc quem decide. Acho que rir é um direito seu faça faz bem pra saúde. Agora me direspeitar é algo que vc de reavaliar. O que desejo é que você expresse seus pensamentos suas convicções sempre pautado no respeito com críticas construtivas. Embora eu podesse já esta localizando seu link e te identificando para vc em juizo afirmar estas palavras impensadas, vou deixar pra vc fazer uma reflexão. Sou uma pessoa que respeito as pessoas e não agrido por não concordar com minhas convicções gostaria apenas que vc faça seu trabalho sem que seja necessário usar expedientes inopotunos, agresivos, intempestivos. Desejo a vc o sucesso! que sejamos críticos mas que respeitemos aqueles que não concordam com nossos pensamentos e ideais.

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