A
edição do jornal britânico The Observer deste domingo trouxe um perfil
da presidente Dilma Rousseff e questionou se a petista terá condições
para sobreviver à crise que se instaurou em seu governo.
A
reportagem, assinada pelos correspondentes Jonathan Watts e Bruce
Douglas, relembra o passado de ex-guerrilheira de Dilma e pontua os
principais dilemas de seu segundo mandato, inclusive o embate com o
presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
Segundo o semanário, que é publicado aos domingos, Dilma optou pelo silêncio como estratégia para enfrentar a turbulência.
“Isso
(silêncio) se provou uma virtude e um defeito em uma carreira pitoresca
de ativista estudantil a tecnocrata para líder da sétima maior economia
do mundo”, diz o jornal.
“Nos anos 70, Rousseff foi detida e
torturada durante a ditadura militar sem delatar os nomes de seus
camaradas do submundo marxista”, acrescenta.
“Atualmente, no
entanto, sua falta de vontade para se engajar em um debate e construir
alianças é amplamente visto como um fator chave em uma crise política
que a tornou a presidente mais impopular desde a redemocratização”,
finaliza.
De acordo com o periódico, menos de um ano depois de ser
reeleita, a presidente enfrenta uma “coalizão fragmentada, uma economia
claudicante e o maior escândalo de corrupção na história do país”.
O jornal lembra que há insatisfação mesmo entre os mais pobres, que formam a base eleitoral de Dilma.
“A
hostilidade era esperada das famílias de classe média, branca e rica,
mas Rousseff também desapontou muitos dos que a colocaram no poder”,
diz.
Sem brilho
O
semanário compara o governo de Dilma com o de seu antecessor, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e diz que, durante seu mandato,
o PT “perdeu o brilho”.
“Diplomatas admitem reservadamente que a
presidente tem pouco interesse na política externa. Ambientalistas
condenam sua aprovação do fraco código florestal, a construção da
hidrelétrica na floresta amazônica e o desenvolvimento de combustível
fóssil pela Petrobras”.
Segundo o Observer, comparada com Lula, falta a Dilma “calor pessoal”.
No
entanto, o jornal diz que a “honestidade” é um trunfo da presidente e
lembra que, em entrevista recente a uma revista alemã, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso a descreveu como uma “pessoa honrada”.
“Sob sua presidência, nunca se investigou tantos malfeitos”, assinala o Observer.
O semanário destaca, no entanto, que “a falta de vontade de participar
do ‘clube do bolinha’ da política brasileira, na qual menos de 9% do
Congresso é composto por mulheres e corrupção é uma rotina, explica em
parte seus problemas atuais”.
O jornal lembra o embate de Dilma,
quando ainda era ministra de Minas e Energia, com o atual presidente da
Câmara, Eduardo Cunha, a ponto de ela ter quebrado o protocolo durante a
posse do peemedebista, deixando o Congresso pela porta por onde entrou,
de modo a evitar cumprimentá-lo.
“Cunha, agora presidente da
Câmara, parece não ter perdoado ou esquecido o deslize. Apesar de
pertencer ao partido aliado de Rousseff, ele concorreu contra o
candidato de Dilma à presidência da Câmara e venceu”.
“Desde
então, ele tem se provado o espinho mais afiado do lado da Rousseff. As
tentativas dela de controlar os gastos e aumentar os impostos para
reordenar as finanças públicas foram frustradas por um Congresso hostil,
orquestrado por Cunha. Além disso, a apresentação dos procedimentos de
impeachment é sua prerrogativa individual. Ele já deu indicações de que
pretende seguir esse caminho”.
Reeleição
O jornal assinala ainda que, antes de se tornar presidente, Dilma nunca havia sido eleita para qualquer cargo político.
“Ela
foi uma escolha controversa para substituir Lula, mas inicialmente se
provou um sucesso com os eleitores, facilmente vencendo a eleição de
2010 e conduzindo o boom econômico e levando a cabo uma política de
redistribuição de renda que lhe assegurou seus índices de aprovação a
80%”.
“A subsequente desaceleração do crescimento erodiu sua
sustentabilidade, mas ela ainda conseguiu enfrentar os protestos de 2013
e as vaias das multidões da Copa do Mundo no ano seguinte para
assegurar sua reeleição em 2014”.
“Desde então, os aliados vêm firmemente abandonando a sua base”, diz o jornal.
Segundo o semanário, “as alternativas para Dilma ─ renúncia, impeachment ou golpe” seriam provavelmente piores para o país.
“O
dilema parece ter sido reconhecido por empresários e pela mídia
tradicional, que vem recentemente atenuando as reivindicações pela
remoção da presidente pelo temor de que o país perca o grau de
investimento”, finaliza.
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